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O meu Primeiro Programa

Lembro-me como se fosse hoje: blusinha amarela com a estampa de uma guitarra preta, minissaia com estampa de cobra e salto alto e fino dourado, cabelos "chapados" e muita maquiagem. O nervosismo e o friozinho na barriga era intenso, o medo e a insegurança eram visíveis, afinal, era o meu primeiro programa, e aquela atitude não combinava com a minha formação e criação. Eu queria desistir, mas o meu amigo estava bravo: há dois dias ele marcava pra mim e eu desistia na última hora. Ele estava tentando me ajudar do jeito dele, mas era a única pessoa que eu poderia contar naquele momento de falência financeira. Troquei a vestimenta social pela minissaia, salto alto, cabelos longos, lisos e loiros e muito maquiagem. Nossa! Eu realmente era outra pessoa. Parecia mais uma travesti, eu nunca gostei de passar sombra nos olhos, só usava baton.

Encontro marcado pelo meu amigo Fabrício através do MSN (era a única forma de marcar algo, não existia as plataformas e sites que existe hoje, esclarecendo que ele era um garoto de  programa. Ele me conhecia há muitos anos, conhecia a minha vida e acompanhava o meu drama. Após muitos ensaios, eu acabo criando coragem. Tento deixar a postura de Diretora e educadora para uma vida totalmente diferente do que eu estava acostumada................ (pausa).............. Isso sempre me emociona................... (eu preciso beber uma água)


Por medida de segurança, meu amigo pediu ao cliente que me pegasse em frente ao prédio dele, Rua Barão de Jaguara, lugar bem apropriado para as iniciantes. Meu amigo ficou comigo o tempo todo, até que o cliente chega. Eu estava tão nervosa que nem lembro a marca do carro, eu só sei que era prata, limpo e cheiroso, e no volante havia um japonês. Eu sorri, fiquei um pouquinho mais calma... eu adoro japoneses, pensei... Putz que sorte!!! Cumprimentei o japonês que era novo e bonito, fiz de conta que eu conhecia Campinas, ele me perguntou que motel eu  preferia ir, e eu disse que ficaria ao critério dele, já que na verdade eu não conhecia nenhum. Ele me perguntou por que eu fiquei brava no MSN? Eu respondi: "Esquece amigo, já passou!". E eu pensava, o que o meu amigo teria dito pra ele? Nossa, eu estava boiando e também pensava para onde será que ele está me levando? Nossa como Campinas é grande! mas é bonita hein, Ai Deus me proteja! E se ele me matar e jogar o meu corpo em um terreno baldio? como os meus pais vão saber? (coisas negativas que eu assistia em filmes). Se ele for perigoso eu terei que avisar o meu amigo. O cliente era tímido e eu medrosa. No percurso da Rua Barão de Jaguara até a CPFL, meu Deus, que tortura. Chegamos ao motel que ficava na rodovia e tinha um muro alto de pedras. Eu estava de lingerie cor-de-rosa de algodão da Minnie, nada sensual. Eu nunca tinha transado com um estranho e muito menos por dinheiro, parecia algo muito feio e sujo, sem sentimento algum. Ele não tinha a pegada e me perguntou se eu beijava na boca, mas eu estava tão carente que tomei a iniciativa, me comportei como tal ou até melhor, porque eu não fiz só pelo dinheiro, eu fiz porque eu também precisava. Sempre gostei muito de sexo e eu estava sem transar há algum tempo. Beijar na boca era pouco para mim, eu queria muito mais e fiz. O japonês ficava me olhando e disse: "Você é diferente". Eu nem quis saber o motivo. O meu amigo Fabrício já estava ligando no meu celular, preocupadíssimo. O programa foi rápido, acho que o meu amigo marcou 1 hora exata de programa. Recebi R$ 60,00 (do convencional), completo o meu amigo disse que era mais caro, eu nem lembro quanto.

Reflexão... Eu saí, beijei, abracei, gozei e ainda recebi? aquele dia 03/01/2010 eu percebi que seria um bom negócio.

O japonês, no dia seguinte, entrou no MSN marcando novamente. E eu fui mais tranquila, dei e recebi novamente. Saímos diversas vezes até que eu fui pedida em namoro por ele, mas eu não aceitei porque eu tinha metas e nos tornamos amigos. Com o lançamento do meu livro, ele descobriu que ele foi o meu primeiro cliente e ficou mais dengoso ainda comigo.

Depois dele vieram muitos clientes, japoneses, chineses, argentinos, chilenos, americanos, alemães, etc... muitas histórias eu vivi e vivo até hoje, mas eu não nego que eu tenho um carinho especial pelos orientais.

O meu amigo sempre me policiando para que eu agisse com a razão, amorzinho não paga dívida. Ele me ensinava que o meu tempo custava dinheiro, e que eu não era uma ficando, mas uma profissional cheia de potencial. que o dinheiro teria que vir sempre em primeiro lugar, senão eu seria aproveitada e jamais valorizada.

Hoje ele teria muito orgulho de mim.

Por tudo que eu conquistei nesses 15 anos de trajetória como profissional do sexo.

A revista DECIFRA-SE eu dediquei a ele Fabrício Guimarães (in Memorian). Infelizmente ele faleceu em 2013 vitima de um tumor no cérebro, a pessoa que me encorajou e me batizou com o nome de Suzy.

Com a morte dele eu parei de trabalhar em Campinas por me sentir desprotegida, e assim eu sigo confiante e atendendo até hoje em Indaiatuba.


SUZY VIEIRA


 
 
 

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